25 de abril de 2011

Eu estou voltando...


     Comemoro com tapinhas imaginários em meus ombros, minha primeira e verdadeira sensação de liberdade nos ultimos tempos.  Quando foi que começou tudo isso? Tento recorrer à memória e ela como sempre, prega peças em mim. Não tenho idéia. Só lembro que foi depois do carnaval. É muito tempo? É pouco? Não sei dimensionar. Só sei o que sinto agora. O sol voltou a brilhar. Embora desta vez tenha sido  mais fácil, não foi um passeio no parque. E olhando agora pela minha janela vejo um céu cinza, mas dentro de mim o sol brilha. Viva!
     Não há um tiquinho sequer de nicotina em mim. Cheguei ao ultimo degrau. Faz três dias que não recorro ao adesivo e foi por puro esquecimento. Esqueci de colocar e nem sequer me dei conta. E foi um fim de semana bem agitado. Feriadão. Amigos, churrasco, bebidas e cigarros. Tenho amigos que fumam e estavam lá.  Em algum momento, lembro de ser questionada se o cheiro não me incomodava e respondi que não.  Falei que estava usando adesivo e acreditava que estava. Só percebi que não usava bem mais tarde. Acreditei por não sentir desejos sanguinários quando alguém falava bobagem perto de mim e sorri ouvindo uma piada pela décima vez, eu me senti quase eu. Quase, pois atribuí ao adesivo àquela tranquilidade. Eu estava no caminho da volta ao meu estado natural. Já era sem tempo, estava com uma puta saudade de mim.
     Isso significa que não sou mais fumante? Não, um viciado será sempre um viciado. Não existe ex-fumante.  Os prazeres que provamos, fica pára sempre registrado em nossa vida, assim como algumas dores. São nossas tatuagens internas.  Podemos passar anos sem ter um contato direto, mas no momento que isso ocorre nosso corpo e mente reconhece e pronto. Desejamos ardentemente viver esse prazer novamente.
      O prazer sinto agora é o  de me reconhecer em mim,  de ver o meu dia ensolarado. O prazer de saber que estou voltando.

13 de abril de 2011

Nossas escolhas


     Não lembro exatamente o dia que comecei, mas parei. Parei de me importar com as horas do dia e voltei quase à normalidade. Às vezes ainda sinto-me irritada, mas mulher é formada por um amontoado de hormônio que remexe tudo por dentro e muitas vezes me sinto um liquidificador. Atualmente uso somente um adesivo de baixo teor de nicotina que segura minha onda. São tão poucas as manifestações da abstinência que muita vezes nem lembro que já fumei. Pretensão dizer isso tão cedo, mas é o que sinto.
     Hoje fui me pesar e emagreci. Isso mesmo perdi peso. Essa coisa de que parar de fumar engorda é papo, comigo ocorreu o contrário.  Perdi 400 gramas. Acho que  pensar que vai engordar é uma maneira de sabotar a tentativa ou desistir antes de começar. Eu nunca tinha pensado muito no assunto, engordar ou não nunca foi a questão.
     Bom hábitos alimentares sempre tive e os mantive, em momentos de ansiedade fui para os braços das minhas amadas pitombas e M&M's foi um amante passageiro. Confesso que surtei algumas vezes e ataquei as bolachas e pipocas de outros, porque eu nunca as compro.  Bebi muita água e olha que eu não sou fã dessa bebida sem graça e sem cor, mas estranhamente a água me cortava a ansiedade. Bebia sempre na boca das garrafas de água mineral ou em squeeze, de outro jeito não me interessava. Freud explica. Eu é que não vou explicar e nem tentar.
      Ando a mil como sempre andei, funciono maravilhosamente sobre pressão, mais até que em momentos de calmaria. Adoro adrenalina, a loucura que se apossa de mim quando penso que tenho várias coisas a fazer e o tempo é curto.  Tão curto que escrevo pouco.
     Minha fórmula para parar de fumar foi descobrir o porquê de eu fazer isso. Cada um tem a sua, mas se posso dizer algo sobre isso é: Resolva a questão do porque fuma e parar ficará mais fácil.
     Não tente porque alguém diz que é preciso. Não faça por ninguém, faça por si. Quando entender o verdadeiro motivo que o(a) leva a correr para os braços da nicotina o caminho fica mais fácil. Ela é tentadora, ela é sedutora, é deliciosa, mais dispensável e substituível, como quase todos casos de amor fugaz. E no fim deste caso de amor dependente,  você pode escolher se  vai sofrer para sempre, se vai substituir por outro, se vai curtir o passado lembrando do início onde tudo parecia legal, antes da total dependência que acaba levando o prazer embora e se vai  engordar por esse amor rompido ou não.  Todos os caminhos são escolhas nossas.

1 de abril de 2011

Fumaça é só fumaça.

         Creio que internalizei a verdadeira relação que tenho com meu vício e, apesar das dificuldades e mudanças drásticas de humor, onde jogo beijos com a mesma mão que jogo pedras, percebo que desta vez algo está sendo diferente, é já houve outras tentativas, mas meus filhos eram o motivo, eles realmente me enchiam o saco. Desta vez não houve pressão, depois de um belo discurso sobre meu direito de poluir meus pulmões e a minha liberdade de escolher o caminho que quero traçar, assumi meu vício e desde então, eles respeitaram minha postura. Perguntaram-me hoje porque resolvi parar, listei os motivos:  adorar estar no meio de gente e que realmente não houve outro.
     Lendo a pouco o blog de uma amiga Juliana, onde ela cita o que escrevi  resolvi  reler o  que escrevi sobre o meu pai, que meu vício me ligava a ele, não sabia o quanto isso podia ser o diferencial e verdadeiro ate colocar na escrita. Meu parceiro me disse  que não se importava com o meu vício porque ele tinha percebido a muito tempo essa verdade.
     Sim, o cara  me marcou profundamente, sua ética vivida e não discursada, a coragem de dizer o que acreditava sem meias verdades, sua simplicidade e personalidade forte, sua segurança, tudo isso eu queria reter junto a mim. Queria manter nossa ligação, reforçado pela lembrança da despedida no hospital quando nos seus últimos dias ele me pedia um cigarro. Quando ele partiu  fumei o restante dos cigarros  que ele deixou e todos os cigarros que vieram depois disso foram oriundos do mesmo maço.
      Tive uma conversa com franca com ele e resolvi guardar comigo outras heranças, manter o cheiro de infância na infância. A fumaça é tão volátil, tolice acreditar que para  mantê-lo  vivo em mim tinha que manter essa ligaçao numa  estrutura de formação de vapor.  Meu Eu  está tatuado com coisas que aprendi com meu velho e com os desenhos eu própria rabisquei e que às vezes penso que são traços demais e me renovo e me encolho e me estico para caber mais e mais.  Fumaça é só fumaça. Troquei fumaça por lembranças de amor.