22 de julho de 2011

Motel

Tem coisa melhor? Adoro. Não sei se é por causa do cheiro de sexo, da sensação que tem esperma  por todo o quarto, ou porque lá é garantia de diversão na certa.
Amanhecer em motel é mágico, acordar com o corpo e mente entorpecidos e querer adiar a saída. Quando abre um novo tenho que ir, mas tenho o meu preferido. É lá que sinto um reconhecimento de gozo. Terminar uma noite mágica indo para o motel é garantia que a noite só está começando, pouco importa se isso ocorra às quatro da manhã.
Nasce em mim uma disputa silenciosa de sentir mais prazer do que o ultimo inquilino, um desejo silencioso de descobrir onde será que eles ainda não usaram. Gosto da minha prepotência nessas horas de imaginar que sou mais criativa que as demais. O único lugar onde evito fazer amor é na cama. Lógico que também não  faço uso da banheira, sei lá se não tem um zoidinho perdido e  não aproveita a porta aberta e entra sem ser convidado? Melhor não arriscar. Banheira só em casa.
     Por a cabeça no travesseiro de Motel exige muita coragem, onde será que eles já estiveram antes de ser usado como escora de cabeça? Dormir naqueles lençóis exige bravura e gosto de me gabar que sou uma mulher corajosa. No motel viro lagartixa adoro subir pelas paredes. Por isso não irei para nenhum que seja só cama e banheira. Em matéria de Motel sou exigente. Adoro as suítes mais suntuosas e os chalés, sabe quantas possibilidades há em lugares assim? O melhor motel é aquele que ao sair no dia seguinte observar os pontos que ainda ficou para explorar, deixar o lugar e ele convidando para que retorne e preenchas as lacunas deixadas nesse dia, quase te chamando de fraca por não ter explorado até o ultimo cantinho e desafiando você a voltar. Esses são os que mais amo. Ir ao motel é como visitar outro país, outra cidade, a ultima coisa que quero é dormir e descansar faço isso quando chegar em casa. Tem tantos lugares para se visitar que o cansaço é temporariamente esquecido. 
     Amo café da manhã na cama, no motel então é perfeito, só tenho uma ressalva:  o café da manhã no Motel deveria ser caldo de mocotó, baião de dois, vaca atolada, rabada com agrião ou algo assim que dê sustância. Como eles querem que nossas energias sejam recuperadas com ovo frito, queijo, presunto e bolinhos?! Deve ser por isso que poucos ficam depois do café da manhã.

     Adoro filas em motel, gente querendo se esconder, fingindo que não transa. Parece que o cara veio sozinho, é um tal de baixar a cabeça, se enterrar nos bancos. Se pensarmos bem esse é o momento perfeito para iniciar uma nova amizade, já que começamos tendo algo em comum. Já imaginou a cena? Você descendo do seu carro e puxando conversa?
    No ultimo fim de semana a fila se formou na saída, 11 da manhã e lá estávamos nós, éramos o terceiro. Quando o casal na nossa frente saiu da portaria, parou o carro logo em seguida o sujeito abriu a porta do carro e vomitou. Será que a mulher que estava com ele estava estragada? Tem que se ter muito cuidado com o que se come. É preciso ser bem seletivo. Não se pode confiar na embalagem.

4 de julho de 2011

Apenas escute


    Quando o som sai dos meus lábios, na maioria das vezes é só isso, um som. Quando quero ser ouvida de verdade, silencio. É no silêncio que encontro eco para as palavras que arranham o ouvido. É no silencio que mais me torno ruidosa. O silêncio é apenas a ausência de sons audíveis.
Não economizo palavras no silêncio. Economizo silêncio quando falo. E não sou dada a economia, não sou nem um pouco parcimoniosa. Gosto de consumir. Consumo sentimentos, consumo emoções até não sobrar mais nada na prateleira. Consumidora compulsiva da vida. Tenho muita fome. Fome de tudo que mereço e eu mereço muito. Nasci para sorrir e não aceito ficar sem consumir um sorriso  pelo menos uma vez ao dia. Não economizo energia por medo de blackout. Prefiro o erro do excesso que o da economia.
     A única coisa que  consegui estocar até hoje são as lágrimas, mas não é por avareza, é por pura falta de competência: não aprendi a chorar. Talvez porque seja  o único som que não me faz dançar. Não é falta de sentimento, é falta de sentimentalismo.  Acredito que o uso demasiado de lágrimas leva a banalidade do lirismo. Não sou, nunca serei, me recuso terminantemente a ser uma pessoa banal.  Não consigo viver uma banalidade, já tentei, fiz até curso on line e fui reprovadíssima. Nem as coisas mais triviais que me proponho a fazer chega ao fim na sua forma ordinária, no meio do processo passo a devorá-la como rara, única. Porque tenho a tendência de fazer sempre o melhor com tudo que  cruza o meu caminho. Mania de perfeição. Quando assim não faço, é quando quero exercer meu direito de uma vez ou outra me sabotar. Até nisso capricho, dou o meu melhor. Sou o que me proponho a ser. Nem mais, nem menos. Quero consumir todo o meu silêncio.  No silêncio é  quando mais alto penso.