Existe   companheiro mais fiel que um bom livro? Tudo começa com uma paquera:   você vai ao local em que certamente o encontrará e ali começa a rolar um   clima. Uns tentam chamar sua atenção de todo jeito, muito colorido  fica  ali piscando ininterruptamente, para mim não adianta, não  gosto  dos  fáceis. E você vai circulando, observando um... depois outro... Se  pintar um  clima, delícia! você o leva para casa  e fica a expectativa:  se você  vai amá-lo ou odiá-lo só o tempo dirá, como faz com qualquer relacionamento.  
       Gosto de vários tipos de livros, aqueles que nos fazem viajar, que nos   encanta com suas palavras, nos embebeda com sua delicadeza, mas  confesso:  gosto mesmo daquele que me desafia, que me provoca, que não  deixa minha  mente sossegar um só minuto, me tira do sério, que me  irrita, para logo  em seguida me encantar com sua sabedoria. Nem sempre  concordo com eles,  mas mesmo assim, sempre me fazem sair com uma nova  perspectiva. E  quando as verdades vêm acompanhadas de humor? Adoro  esses que me trazem  sorriso aos olhos, enquanto enche de dúvidas a   minha mente. Devolvo o  tratamento os tratando com carinho. E o melhor  de tudo: eles não são  ciumentos! São generosos e quantos mais você  diversifica, mais poderosos  eles se tornam ou por se completarem ou por  se antagonizarem deixando você  criar seu próprio ponto de vista. Ah!  Sem dúvida esses são os "the best".  Confesso que existe um grupinho que  não dou bola de jeito nenhum,  aqueles que vêm querendo desde o titulo  ate a última página te ensinar  algo, são pretensiosos demais, já chegam  dizendo que querem ajudar, te dizendo como resolver sua vida. Como   assim se  nem me conhece? Se eu me desconheço?
       Meu problema é que não consigo abandonar um livro se não me   agrada. Não sei se é por masoquismo ou esperança de que algo, nem que   seja na última linha, mude. Tenho que ler até o fim.
        Sou acarinhada sempre com um, meu parceiro nunca deixa passar muito   tempo sem que me mime com um desses companheiros fiéis. Gosto de saber   que  os dois estão ali na hora que vou para cama bem ao meu lado, mas a  certeza   da lealdade só um pode me dar, pois conheço o material de que foi   feito, do momento da prensa, até o último local em que o encontrei, o   outro está em constante processo de concepção, assim como eu e, portanto   passível de cometer deslizes. Gosto de comparar um parceiro ao livro:  um é  aberto e está sempre se oferecendo inteiro, sussurrando:  “devore-me”. O  outro, apesar de pedir para ser devorado, tem que  descobrir-se, não é  tarefa de ninguém desvendá-lo ou ficar buscando-o  nas entrelinhas, se  não te envolver  e demorar muito a se descobrir,  você o esquece por um tempo  na estante e deixa-o ficar ali levando poeira, enquanto você é  atraído por outro até descartá-lo de uma vez ou resolver tirá-lo da estante e fazer uma releitura.
       Amo o cheiro de um livro novo, é cheiro de viagem, cheiro do   desconhecido pronto para se abrir e ser explorado, é cheiro de aventura,   é cheiro de gozo, de adrenalina e são esses, para mim, os principais   ingredientes para se viver bem. Tenho que ir, tem um inquieto, me   seduzindo agora.
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário